Incêndios na Califórnia provocam a COVID-19

O que acontece quando um incêndio se encontra com uma pandemia?

Os perigos em potencial da mistura de fumaça com a COVID-19 nos pulmões das pessoas preocupam os médicos na Califórnia.

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Foto: (reprodução/internet)

Desde o início da pandemia da COVID-19, uma questão que paira sobre a Califórnia é preocupante. O que aconteceria em uma grave onda de incêndios florestais no meio da pandemia?

Com cerca de duas dúzias de grandes incêndios queimando em centenas de milhares de acres nos últimos dias, as pessoas são forçadas a abandonar o norte da Califórnia. Na quarta-feira, os bombeiros descreveram que esse cenário só tem um possível final.

“Os recursos de combate a incêndios da Califórnia estão esgotados à medida que novos incêndios continuam a aparecer”, disse o oficial de informação pública do departamento de incêndios da Califórnia, a Cal Fire, Jeremy Rahn.

A Califórnia está com um histórico cheio dos incêndios desta semana, que desencadearam mais de 360 novos incêndios em todo o estado.

“Infelizmente, vários incêndios fugiram de nós”. … Ele se expandiu além de nossas habilidades”, disse Shana Jones, Chefe da Unidade de Incêndios da Califórnia.

Os incêndios de rápida propagação pelas cidades de Sonoma, Napa e Solano são  dolorosamente familiares para os residentes da região que sempre enfrenta os incêndios, mas a pandemia acrescenta uma nova ameaça à situação.

Os incêndios na Califórnia são extremamente comuns, especialmente nessa época do ano em que os Estados Unidos no auge do verão, enfrentam temperaturas altas por todo país.

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Evacuar as pessoas é um dos desafios mais óbvios, disse o Dr. John Balmes, médico da Universidade da Califórnia, em São Francisco, que também ensina e estuda os efeitos da poluição do ar na Universidade da Califórnia, em Berkeley.

“Agora que temos esta pandemia, não podemos simplesmente colocar muitas pessoas em um ginásio de ensino médio, o que é muitas vezes o que fazemos”, disse Balmes, que também é membro do Conselho de Recursos Aéreos da Califórnia, a agência de ar limpo do estado.

A ameaça Invisível

As mesmas preocupações se aplicam aos bombeiros – muitos dos quais são reclusos – que não podem facilmente ficar juntos ou viajar de outras regiões para combater o fogo.

Mas os médicos estão preocupados com outra ameaça, menos visível: O que acontece com os pulmões das pessoas quando a fumaça do incêndio, um perigoso poluente ligado a várias condições adversas de saúde, entra nos pulmões de pessoas que já possuem COVID-19?

Dada a novidade do coronavírus, pouco se sabe ao certo sobre como a inalação da fumaça  pode piorar os sintomas da COVID-19 de alguém infectado.

“Há muitas coisas que ainda não entendemos”, disse a Dra. Stephanie Christenson, uma pneumologista e doutora em cuidados críticos, responsável pela pesquisa na Universidade da Califórnia, São Francisco.

“Como isso vai piorar as coisas para os pacientes? Se você contrair a doença, é mais provável que você tenha sintomas? Se você está se recuperando da doença, como isso vai afetá-lo”?

Balmes disse que tem pensado nisto há algum tempo e que há bons motivos para todos se preocuparem.

 

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“Sabemos que a exposição ao fogo selvagem nas comunidades aumenta o risco de infecção do trato respiratório inferior”, como bronquite aguda e pneumonia, disse Balmes.

“Portanto, existe a preocupação no contexto da pandemia de que a exposição à fumaça do fogo  aumentaria o risco de passar de fase fraca para uma COVID-19 mais severa”.

Não são apenas aqueles próximos aos incêndios que estão em risco. A fumaça se espalhou por toda a área da região da baía de São Francisco durante dias.

A COVID-19 e as incertezas que pairam a Califórnia

Em muitas áreas, o índice de qualidade do ar tem sido superior a 200, o que indica que “todos podem experimentar efeitos mais graves à saúde se forem expostos por 24 horas”, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental.

“A fumaça do fogo florestal é “como a fumaça do tabaco sem a nicotina”, disse Balmes.

“Quando alguém inala partículas tóxicas da fumaça, suas vias respiratórias podem ficar quimicamente feridas, predispondo-as as infecções mais graves.”

” Se suas vias respiratórias também estiverem muito inflamadas pela COVID-19, elas podem estar em sérios problemas.”

“A matéria produzida pela fumaça dos fogos florestais também pode se acumular e danificar as células semelhantes à ameba nos pulmões de uma pessoa que servem como primeira linha de defesa contra infecções virais”, acrescentou Balmes.

O que é menos claro é se a fumaça do fogo florestal aumenta a probabilidade de pegar a COVID-19.

Um estudo que foi realizado em julho desse ano na China, descobriu que mesmo a exposição de curto prazo à poluição do ar – como se experimenta durante um incêndio – está ligada a uma taxa mais alta de infecções confirmadas pela COVID-19.

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Foto: (Getty Images)

“É importante notar que as pessoas que vivem em áreas altamente poluídas tendem a ter vários outros fatores de alto risco de doenças”, disse a pneumologista da Universidade da Califórnia.

“Portanto o estudo pode não dizer muito sobre a fumaça do fogo florestal em particular. Há, no entanto, uma possibilidade simples: A fumaça do incêndio faz as pessoas tossirem, e a tosse espalha doenças.

Christenson não acha que isso seja um pequeno detalhe. E por isso a Califórnia deve se preocupar com os fatores de doença em meios aos incêndios.

“É por isso que a Sociedade Torácica Americana estabeleceu diretrizes para não usar gás lacrimogêneo [em manifestantes], porque pode fazer as pessoas tossirem mais e salivar mais”, disse ela.

Os médicos viram a mesma coisa acontecendo com os corais, onde pessoas infectadas espalham facilmente o coronavírus enquanto cantam, acrescentou ela.

Em determinado caso, foi preciso apenas uma pessoa infectada para que outras 52 ficassem doentes.

Algumas pesquisas emergentes sugerem que a COVID-19 pode “pegar carona” em matéria produzida dos incêndios florestais, disse Balmes, facilitando a descida do vírus nos pulmões, mas ainda não há muitos dados sobre isso.

A coisa mais importante que as pessoas podem fazer agora, disseram Christenson e Balmes, é continuar usando uma máscara facial, lavando as mãos o máximo possível e mantendo distância dos outros em ambientes com aglomerações.

Traduzido e adaptado por equipe Revolução.etc.br

Fontes: Huffpost, Science Direct, The Sacramento Bee